
O debate promovido no último domingo (21) pela TV Aratu (SBT) foi, sem dúvida, um dos melhores que já vi. Se bem que depois dos dois últimos modorrentos debates realizados pela Band Bahia, qualquer coisa sem a participação do Arnaldo Ferreira (mediador da Band), seria um avanço e tanto. A Band tem tradição em debates e seu jornalismo é reconhecido pela credibilidade. Admiro o jornalismo praticado por eles, muito irreverente e dinâmico, vide Boechat no Jornal da Band. No entanto, em debates a emissora peca pelo excesso de plasticidade e formalidade.
Mas retomando o assunto principal deste post, que é o debate da Aratu, confesso que me surpreendi com a estrutura montada, transmissão sem grandes falhas técnicas e sem mancadas do mediador, o jornalista Casemiro Neto, que desde que chegou na TV do galinho incentiva importantes mudanças na emissora. Escorregões em debates costumam custar caro ao jornalismo dos veículos de comunicação. Fora isso, foi nítida a preocupação dos diretores em fazer do debate algo dinâmico, ágil, e que justificasse o nome 'debate', confronto de idéias, discussão, claro que sadia. Foram quase 3 horas no ar e em nenhum momento o clima esfriou entre os candidatos. Neste aspecto, ganha o eleitor, que pôde acompanhar o desempenho deles sob forte pressão emocional. Desarmados, devido à certa imprevisibilidade dos temas que seriam abordados e das formas como seriam abordados, os prefeituráveis tiveram o espaço para mise-en-scène reduzido, aliás os debates, de uma maneira geral, caracterizam-se por expor facetas forçosamente escondidas pelos candidatos e, sobretudo por seus marqueteiros.
Talvez pela proximidade do pleito e dos resultados das últimas pesquisas divulgadas, todos estavam dispostos a jogar suas últimas fichas, arriscar. Imbassahy pareceu o mais desesperado, partiu para cima de João Henrique e ACM Neto. Acertou quando, incisivamente, perguntou a ACMzinho quais os projetos que ele tinha elaborado em seus 6 anos de atuação parlamentar. O democrata enrolou, enrolou e nada, não citou nem umzinho. Interessante! Líder nas pesquisas, ACM evitou fazer ataques duros, gozando da cômoda posição assegurada pelas pesquisas. Claro que vale lembrar que Paulo Souto também gozava de posição privilegiada nas pesquisas e quase enfartou quando foi surpreendido por uma derrota significativa ainda no 1º turno. ACMzinho fez jus ao tom de sua campanha: parecia um menino. Ria para não parar mais dos outros candidatos, se divertiu bastante.
João Henrique parecia que estava dopado. Roboticamente, articulava frases bem encadeadas até demais, pareciam ter sido exaustivamente decoradas. Até mesmo a piscada de olho parecia ensaiada. Quando fixava o olhar na lente das câmeras provocava pânico nos telespectadores, parecia nos encarar raivosamente, como se quisesse comer nossos votos com os olhos. Acho que sua lente de contato estava incomodando. Só pode! Iniciou o debate agradecendo a Deus pelo ar que respirava e terminou agradecendo pelo ar que ia respirar amanhã. Quase saiu dos estúdios voando rumo ao colo do Pai. João arrancou muitas gargalhadas ao se defender de acusações de que teria exibido uma propaganda mentirosa, na qual uma mulher aparecia na janela do que seria sua casa, supostamente, construída pela prefeitura. Na verdade, a mulher estava na janela de uma creche do bairro onde mora. João Henrique "justificou": Nós mostramos a felicidade futura desta mulher, que vai ter sua casa construída. Piada prontíssima, saída do forno. Se começarmos a ficar felizes com promessas, vamos fazer um carnaval antecipado durante as eleições.
Em matéria de sorriso plástico e amarelo, Pinheiro foi, disparado, primeiro colocado. Ao terminar qualquer colocação, mesmo que fosse séria, o petista se esforçava para concluir com uma risadinha que queria comunicar: sou simpático, vocês estão vendo?! Vejam! Forçado demais! Ele foi quem mais se esquivou das polêmicas, o que, ao meu ver, é negativo, pois demonstra sua apatia. Aliás, este é um traço que não suporto no candidato do PT, ele é muito sossegado, parece sempre estar em outro lugar, outro plano, talvez relembrando os tempos em que comandava greves sindicais ao lado de Lula e Wagner... Por sinal, por falar em simpatia, adoraria que o PT lançasse Fátima Mendonça, primeira-dama do Estado, candidata, não agora porque não é possível, mas nas próximas eleições, pegando a onda Kirchner, seria uma boa pedida. Voltando a Pinheiro, ele parecia ter aprendido uma palavra nova: modal. Ele e João Nenrique repetiram o termo umas 10 vezes para falar sobre as diversas possibilidades de "modais' para o trasporte público da capital.
Imbassahy protagonizou, involuntariamente, o momento mais 'quente' do debate. Provocado pelo radialista Mário Kertesz, o peessedebista se viu obrigado a subir o tom e perder o rebolado. Os dois alimentam desavenças nos últimos meses. Uns dizem que tudo começou quando a esposa de Imbassahy se recusou a dar entrevista pra Mário, outros afirmam, maliciosamente, que o radialista recebeu um 'troco' do atual prefeito-candidato, para que, não só parasse de fazer críticas à sua gestão, como iniciasse uma cruzada ininterrupta contra o tucano. Na minha singela opinião, o candidato foi desrespeitado e foi prejudicado no debate, pois além de enfrentar os quatro adversários que concorrem à vaga de prefeito, teve de se confrontar com alguém que lá estava para ser imparcial. O convite a Mário Kertesz foi a bola fora da organização. Não por ser Mário Kertesz, mas por ele estar envolvido em uma confusão com um dos postulantes.
Por fim, o socialista Hilton Coelho, rebatizado de 'Rilton' pelo apadrinhado de Geddel. O candidato arrancou risos e aplausos da platéia presente, composta por assessores e representantes da população. Hilton se mostra mais confiante e é mais incisivo nas suas críticas. Vem se mostrando como a pedra no sapato dos demais candidatos ao abordar temas propositalmente ignorados pelos adversários, como PDDU, alianças políticas, financiamento privado de campanha, etc. Mesmo sem condições políticas e financeiras de vencer as eleições, sua presença no processo eleitoral é fundamental para suscitar e pôr em evidência temas preteridos por conveniências políticas e eleitoreiras. O discurso de Hilton é extremanente ideologizado, mas não vejo nisso problema maior que os interesses empresariais, explicitados e materializados sob a forma de financiamento de campanhas, que envolvem os discursos dos demais candidatos.
Pensei em fazer um texto mais engraçadinho e leve sobre este debate. Não saiu muito engraçadinho e também não foi tão informativo quanto uma coluna de Samuel Celestino, mas é isso.