
Candidatos que disputam o 2º turno em Salvador esquecem propostas e disputam um lugar no coração do presidente, que já tem dono
O 2º turno da disputa pelo Palácio Tomé de Souza, sede da prefeitura de Salvador, é marcado por um embate entre dois candidatos da base aliada do presidente Lula, que no Nordeste conta com índice de aprovação estratosférico, 92%. O atual prefeito da cidade, João Henrique (preferido por 31% do eleitorado), do PMDB do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), enfrenta, no sentido mais literal da palavra, o petista e deputado federal Valter Pinheiro (detentor de 30% dos votos válidos), que conta com o apoio do governador Jaques Wagner.
O 2º turno da disputa pelo Palácio Tomé de Souza, sede da prefeitura de Salvador, é marcado por um embate entre dois candidatos da base aliada do presidente Lula, que no Nordeste conta com índice de aprovação estratosférico, 92%. O atual prefeito da cidade, João Henrique (preferido por 31% do eleitorado), do PMDB do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), enfrenta, no sentido mais literal da palavra, o petista e deputado federal Valter Pinheiro (detentor de 30% dos votos válidos), que conta com o apoio do governador Jaques Wagner.
Desde o 1º turno, os dois ensaiam uma disputa que, se não for patética, é improdutiva e desprezível para o eleitor interessado em propostas e em um programa de governo sério. João e Pinheiro brigam, como dois garotos pré-adolescentes, para provar ao eleitorado quem é mais amigo do presidente Lula. Ambos fazem questão de gastar valiosos minutos do horário eleitoral, que longe de ser gratuito, é pago pelo contribuinte, com declarações de amor e carinho para o presidente, estampam fotos onde posam ao seu lado e trocam farpas do tipo: ‘fiquei amigo dele primeiro, você não pode ser amigo dele’, esperneia Pinheiro - com aparente ressentimento - e ‘o que importa é que, agora, ele gosta mais de mim e me dá mais atenção’, retruca João, inseguro de suas afirmações, mas impelido a faze-las pelo todo-poderoso ministro Geddel, convicto de que o presidente nunca o desmentiria e nem subiria no palanque de Pinheiro, sob pena de implodir a fundamental aliança firmada entre o PT e o PMDB em esfera nacional.
Mesmo balaio - Fora esta divergência, que na verdade é originada por um interesse em comum, poucas são as diferenças programáticas dos dois. Aliás, este é um problema crônico em todo o País. Todos parecem oriundos da mesma escola, possuem discursos homogêneos, que podem parecer divergentes no varejo, mas acabam por se confundir no atacado. Se vendem como excelentes gestores, que se preciso for colocarão a mão na massa para construir creches, hospitais, escolas, metrô e tudo mais que você imaginar que possa atrair votos.
Outro aspecto semelhante em suas falácias, me permitam denominá-las assim, é que todos concordam que é impossível realizar tudo o que querem em “apenas” quatro anos, como prevê a legislação. Querem oito anos e, caso não sejam reeleitos, não querem ser responsabilizados pelo eleitor pelo desempenho abaixo do esperado. Cabe a nós, meros votantes, espectadores do circo político, apenas o DEVER de reelegê-los, a fim de que possam concluir seus programas de governo cinicamente vinculados a cronogramas que, coincidentemente, só cabem em exatos dois mandatos consecutivos.
O que se vê em todo o Brasil, e particularmente em Salvador, são discursos meramente publicitários. Nas mãos e nas cabeças hiper criativas dos marqueteiros, candidaturas são transformadas em mercadorias e discursos em histórias tão fantasiosas quanto os contos da carochinha. Ilusões (é só pegar o programa de governo da maioria dos candidatos de 2004 e observar se tudo o que foi prometido foi cumprido para constatar que boa parte do que está ali é enrolação pura) que são vendidas a eleitores-consumidores pouco exigentes, que parecem querer ouvir somente as melhores ofertas – propostas – e são seduzidos pelo produto mais atraente – a embalagem. O resultado deste joguinho são falas genéricas e evasivas, até porque, deste modo, fica mais fácil esquivar-se de cobranças posteriores.
O que se vê em todo o Brasil, e particularmente em Salvador, são discursos meramente publicitários. Nas mãos e nas cabeças hiper criativas dos marqueteiros, candidaturas são transformadas em mercadorias e discursos em histórias tão fantasiosas quanto os contos da carochinha. Ilusões (é só pegar o programa de governo da maioria dos candidatos de 2004 e observar se tudo o que foi prometido foi cumprido para constatar que boa parte do que está ali é enrolação pura) que são vendidas a eleitores-consumidores pouco exigentes, que parecem querer ouvir somente as melhores ofertas – propostas – e são seduzidos pelo produto mais atraente – a embalagem. O resultado deste joguinho são falas genéricas e evasivas, até porque, deste modo, fica mais fácil esquivar-se de cobranças posteriores.
Além de todo este contexto político, outra explicação possível para a semelhança nos discursos de João e Pinheiro é a participação do PT na gestão de João Henrique. A ‘companheirada’ de Pinheiro ocupou, por 40 meses, cargos importantes e assumiu secretarias como a da saúde. Faz apenas sete meses que o partido entregou os cargos que possuía e instantaneamente se autobatizou oposição, como se mudar de lado no cenário político fosse tão simples e fácil quanto ser censurado em Cuba ou acusado de terrorismo nos EUA. O peemedebista acusa o PT, obvia e acertadamente, de traição por causa deste episódio. Os petistas preferem mudar de assunto e juram de pés juntos que romperam a cinco meses da eleição não por mera conveniência política, mas sim pela “acentuação das divergências políticas”. Situação, no mínimo, embaraçosa, que desbota ainda mais o vermelho da estrela símbolo das lutas do PT.
Por outro lado, os petistas acusam João de usar a máquina pública para favorecer sua candidatura, transformando a cidade em um canteiro de obras somente neste último ano de gestão. O que, inegavelmente, é uma verdade. Banho de asfalto, de luz, construção de praças, ampliação do efetivo da guarda municipal entre outros projetos, só foram iniciados a poucos meses das eleições. O prefeito-candidato se justifica dizendo para o eleitor acometido por uma síndrome de ingenuidade que encontrou a prefeitura “endividada e sem condições de fazer investimentos”. Tá, e eu perdi o ‘era uma vez’ da história...
Enquetes - Discussões desta natureza à parte, o que une harmoniosamente os dois candidatos são as críticas aos institutos de pesquisa, principalmente ao Ibope, que protagonizaram um dos vexames das eleições de Salvador (o outro vexame você verá mais adiante). Nem o DataFolha, nem o Ibope sinalizou, claramente, a possibilidade de 2º turno entre Valter Pinheiro e João Henrique, confronto que veio a se concretizar. Dois dias antes do pleito, e depois de ter seus números questionados durante toda a campanha eleitoral, o Ibope pareceu ter jogado as toalhas e apontou empate cravado entre três candidatos (26% para cada). O DataFolha dava a liderança isolada para João, com 31%, que era seguido por ACM Neto (27%) e Pinheiro (24%). Até o fechamento deste texto (01h00 do dia 15/10/2008), nenhum instituto havia se arriscado a divulgar qualquer pesquisa de intenção de voto para o 2º turno.
A imagem do Ibope já estava deteriorada na Bahia desde 2006, quando pesquisas colocavam a vitória no colo do candidato Paulo Souto (na ocasião PFL) ainda no 1º turno das eleições para governador. O resultado das urnas divergiu completamente dos dados levantados. Souto perdeu ainda no 1º turno para o petista Jaques Wagner. Caso queiram divulgar novas pesquisas, os institutos teriam que, ao menos, elaborar uma margem de erro para a margem de erro ou fazer a ressalva de que seus levantamentos não passam de enquetes meramente ilustrativas, sem valor estatístico.
Recado das urnas - Como já foi dito, este não foi o único ‘mico’ das eleições soteropolitanas. A derrota do candidato do DEM, ACM Neto, lançou pesadas camadas de dúvida sobre a crença no ressuscitamento do ‘carlismo’. A capital, até pouco tempo conhecida como reduto do DEM, antigo PFL, pela terceira vez consecutiva diz um sonoro ‘não’, através das urnas, ao movimento político fundado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007. O carlismo, que sempre rondou o DEM baiano, já chegou a controlar a maioria das cadeiras nas câmaras municipais, importantes prefeituras, inclusive a da capital, o governo e as três vagas do estado no senado ao mesmo tempo. Hoje, comemora a vitória em algumas prefeituras do interior baiano, e já se dão por satisfeitos.
Desde 2004, o eleitorado baiano, sobretudo o soteropolitano, vêm rejeitando as candidaturas de políticos ligados a esta corrente político-ideológica. Nas eleições daquele ano, para prefeito, o democrata César Borges, perdeu no 2º turno para o então pedetista João Henrique, que era apoiado pelos partidos ditos de esquerda como PT e PC do B. O placar foi vexatório: 75% a 25%. Em 2006, uma nova derrota histórica. Desta vez, a vítima foi o ex-governador Paulo Souto. Agora, um legítimo ‘Magalhães’, o neto de ACM, sentiu o gosto amargo da derrota. Esta é a primeira vez que um candidato carlista deixa a disputa pela prefeitura ainda no 1º turno.
Situações como esta sinalizam que a política baiana passa por profundas e definitivas transformações, resta aos seus atores acompanhar o processo e promover mudanças em seus modos de atuação.
O recado das urnas foi dado de maneira clara, mas parece não ter sido muito bem assimilado. Mal vemos o fim, ou pelo menos o enfraquecimento, de um movimento liderado por um cacique, acompanhamos o surgimento gradual de outro, que segue o mesmo caminho do anterior. Uma corrente configurada em torno de um personagem central que pretende galgar cargos cada vez maiores e ocupar as diversas esferas do poder, sempre sob o pretexto de querer fazer mais pelo que os políticos chamam de povo. Nestas eleições, Geddel Vieira Lima, que recebeu o apoio de ACM Neto neste 2º turno, se mostrou um exímio discípulo de ACM, o avô.